segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cabaret e Hair inauguram temporada 2012 de musicais em SP

Minha reportagem publicada no jornal Correio Popular nesse domingo, 15/01/2012

Claudia Raia é Sally Bowles em Cabaret
Fábio Trindade
DA AGÊNCIA ANHANGUERA

O que uma prostituta, uma tribo de cabeludos, uma família com hábitos bem estranhos, três Drag Queens e um cantor de MPB têm em comum? Se a primeira resposta que vier a cabeça for nada, já adianto que eles têm sim algo a compartilhar. Afinal, estamos falando dos personagens de musicais que vão encantar o público na temporada 2012, em São Paulo. Podemos dizer, inclusive, que a capital paulista realmente se tornou a Broadway brasileira. Apenas no primeiro semestre do ano, para se ter ideia, pelo menos seis grandes produções estarão em cartaz, como, seguindo a ordem dos personagens citados no início do texto, Cabaret, Hair, A Família Addams, Priscilla – A Rainha do Deserto e Tim Maia – Vale Tudo, o Musical.

Dando largada à maratona de música, dança, canto e enredos espetaculares, a peça estrelada por Claudia Raia, Cabaret, retornou anteontem ao teatro Procópio Ferreira, no Jardim América, e ficará em cartaz até 26 de fevereiro. Encenado pela primeira vez há exatos 45 anos, Cabaret se tornou um dos musicais de maior sucesso de todos os tempos, principalmente pelo sucesso que a história fez no cinema, consagrando Liza Minnelli no papel da prostituta Sally Bowles.

Não pense, entretanto, que você verá a mesma personagem no palco paulistano. “É uma Sally muito diferente”, explica a orgulhosa Claudia Raia, que esperou mais de 20 anos para conseguir comprar os direitos da peça e finalmente realizar o sonho de interpretar esse papel. “No filme, por motivos óbvios em Hollywood, ela não podia ser uma prostituta, porque na época não se falava abertamente sobre isso. Na peça, ela é uma personagem muito solitária, alcoólatra, então a gente pesou um pouco nas tintas, na história real do livro, que é uma Sally soturna, underground.”

Ambientada no Kit Kat Club, uma decadente casa noturna em Berlim, em 1931, a trama, baseada no livro de Christopher Isherwood, gira em torno do relacionamento da inglesa Sally com o escritor americano Cliff Bradshaw, encarnado pelo jovem ator Guilherme Magon. Claudia foi convidada em 1989 para a única versão de Cabaret no País, mas não pode aceitar devido a novela Rainha da Sucata. Desde então, ela nunca mais tirou Sally da cabeça.

“Esse personagem tem tudo o que uma atriz de musical quer fazer. Ele tem uma música espetacular, difícil e desafiadora. Em termos de dança eu consigo mostrar vários estilos. E estamos falando de uma Sally Bowles que é, ao mesmo tempo, hilária, leve, gozadíssima, mas que, no fundo, é uma mulher extremamente infeliz, que não consegue aguentar com ela mesma. Ela só existe na hora que o foco de luz se acende e ela canta no cabaré”, conta.

A grandiosidade da peça também pode ser vista em números. São mais de 80 profissionais envolvidos, entre artistas e técnicos, 150 figurinos provocantes, ousados e brilhantes (apenas Claudia Raia usa dez figurinos e tem nove trocas de roupas durante o espetáculo), 18 músicas, 40 perucas usadas pelo elenco e 11 mesas, que acomodam um total de 60 pessoas (do público) instaladas em cima do palco, tudo para deixar um verdadeiro clima de cabaré. “E você com certeza sentirá que está em um Cabaret”, avisa Claudia.

Após temporada de sucesso no Rio, Hair chega a São Paulo
Hair

Saindo da Berlim da década de 30 para uma Nova York tomada por hippies no final dos anos 1960, o musical Hair deixou o sol entrar no Teatro Frei Caneca, na Consolação, desde sexta-feira, e ficará em cartaz em São Paulo até 29 de abril. Após ser vista por mais de cem mil pessoas no Rio de Janeiro, a versão brasileira assinada pela dupla Claudio Botelho e Charles Möeller (responsável por clássicos como A Noviça Rebelde e As Bruxas de Eastwick) chega com novo elenco e a promessa de colorir a cidade e relembrar sucessos como Aquarius e Let the Sunshine In.

Assim como Cabaret, porém, quem pensa que verá uma versão teatral do filme homônimo de Milos Forman, de 1979, está tremendamente enganado. Além das regalias disponíveis para as telonas, alguns personagens e o próprio enredo são diferentes. Mas, segundo Botelho, isso não afeta a força de Hair. “Eu venho da experiência do Rio, que também tinha um público com essa expectativa do filme, e o que posso dizer é que o poder musical é tão forte, que as pessoas não vão esperando pela história, mas pelas músicas. E, quanto a isso, o público será atendido, porque elas todas estão lá. As pessoas embarcam na trama e esquecem a historia do filme.”

Hair se consagrou como uma das principais referências do movimento cultural e comportamental que mudou o mundo nas décadas de 60 e 70. Em plena Guerra do Vietnã, jovens abastecidos com LSD vivem o amor livre, o rock psicodélico e a filosofia oriental. A peça original estreou em 1967 no circuito off-broadway e logo chamou a atenção devido a uma emblemática cena de nudez frontal e ausência de cenários e de uma coreografia formal.

O campineiro Ricardo Nunes, que já fez Mamma Mia e Jekyll & Hyde - O Médico e o Monstro, integrou o elenco de Hair em São Paulo. “Foi a Kiara Sasso (queridinha dos musicais e namorada de Nunes) que me indicou para os testes e deu tudo certo. É realmente muito legal fazer parte dessa peça”, disse.

“É um elenco bastante diferente do original do Rio, mas com um rendimento muito bom. A troca de elenco nunca é um problema, é doloroso, mas faz parte da profissão e não faz a peça perder o encanto”, lembrou Botelho.


Priscilla, A Rainha do Deserto estreia em março em SP
O que vem por aí...

O palco do Teatro Abril recebe em março a montagem cantarolada de A Família Addams, pouco tempo após sua estreia na Broadway. Marisa Orth e Daniel Boaventura dão vida aos famosos personagens Mortícia e Gomez Addams. Na trama, Wandinha, a filha do casal, leva seu namorado considerado normal para jantar e conhecer a sua família, para desgosto de todos.

Outro clássico das telas que chega aos palcos de São Paulo é a adaptação musical de Priscilla, A Rainha do Deserto. Sucesso nos palcos da Broadway e em Londres, o espetáculo terá sua versão brasileira também a partir de março. O musical contará a história de três Drag Queens que são contratadas para fazer um show no meio do deserto australiano, viajando a bordo do ônibus Priscilla.

Estreando no gênero musical, o ator José Mayer, indicado ao prêmio Shell de Teatro, traz o espetáculo Um Violinista no Telhado, também dirigido por Charles Möeller e Claudio Botelho. Baseada nos contos judiciais de Shalom Aleichem, a peça narra a história de Tevye, pai de cinco filhas que trabalha como leiteiro de um vilarejo judeu na Rússia Czarista.

Depois do enorme sucesso no Rio, o elogiadíssimo Tiago Abravanel, neto de Silvio Santos, chega ao Estado com a peça Tim Maia – Vale Tudo, o Musical. O espetáculo mostra a trajetória do cantor desde a infância na Tijuca, quando era entregador de marmitas, até sua morte, passando pelo período que morou em Nova York, até as primeiras bandas.

Ponto de Vista - Fábio Trindade

Primeiramente, algo importante de ser dito para os preconceituosos, sempre, é que as produções nacionais não ficam devendo em nada para as tidas como originais, seja em Nova York ou Londres. Digo isso porque já ouvi, muitas vezes, frases como “eu não assisti porque não gosto de montagens brasileiras”. Quanta bobagem. A avalanche de musicais em São Paulo e no Rio de Janeiro provam que o gênero criou seu público e profissionais capacitados para manter várias peças em cartaz ao mesmo tempo. E se o estilo vem crescendo, é porque tem qualidade.

Basta passar pelas portas do Teatro Procópio Ferreira, por exemplo, para realmente se sentir em um cabaré. As mesas no palco, a iluminação fraca, a música de fundo, o ambiente esfumaçado. Quando o musical começa então, pronto, entregue-se ao clima de azaração, diversão e até erotismo (tudo na medida certa) pelas próximas três horas. Corpos sarados tocando-se em coreografias sensuais, alinhados a boa música e um roteiro impecável completam o proposto. Claudia Raia... bom, é Claudia Raia. A atriz de 45 anos, além de exibir um corpão de deixar qualquer garotinha de 20 anos com inveja, mostra porque queria tanto fazer esse personagem. A transformação da personagem no palco é algo impressionante, passando por uma divertidíssima prostituta, que engana o companheiro para ter onde morar, até um trapo de pano largado no canto depois de ser usado. Um desafio, mas cumprido brilhantemente.

Já Hair, que luta para mostrar uma tribo sem preconceito, pode, digamos, gerar diferentes opiniões. A versão de Nova York, a que eu conheço, ganha força, obviamente, com as músicas clássicas da trama e um final que coloca o público, literalmente, para dançar. Mas em diversos momentos, a falta de ligação no roteiro transforma o enredo político em puro tédio. Mas, como disseram os responsáveis pela montagem brasileira, versão não quer dizer cópia, e as coisas podem ser bem diferentes por aqui. Algo até frequente no mundo dos musicais, ultimamente.

Serviço

O quê: Cabaret
Quando: de 13 de janeiro a 26 de fevereiro
Onde: Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823, Jardim América, São Paulo, fone: (11) 3083-4475)
Quanto: de R$ 40,00 a R$ 200,00

O quê: A Família Addams
Quando: estreia em 2 de março
Onde: Teatro Abril (Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista, São Paulo, fone: (11) 3105-2039)
Quanto: de R$ 70,00 a R$ 250,00

O quê: Hair
Quando: de 13 de janeiro a 29 de abril
Onde: Teatro Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569, Shopping Frei Caneca, 6º andar, São Paulo, fone:(11) 3472-2226)
Quanto: R$130,00(quinta e sexta) e R$ 160,00 (sábado e domingo)

O quê: Priscilla, A Rainha do DesertoQuando: estreia em 16 março
Onde: Teatro Bradesco (Rua Turiassu, 2100, Perdizes - Shopping Bourbon, São Paulo, fone: (11) 3670-4100)
Quanto: Não Divulgado.

O quê: Tim Maia – Vale Tudo, o Musical
Quando: estreia em 9 de março
Onde: Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823, Jardim América, São Paulo, fone: (11) 3083-4475)
Quanto: Não divulgado

O quê: Um Violinista no Telhado
Quando: estreia em 22 de março
Onde: Teatro Alfa (Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, São Paulo, fone: (11) 5693-4000)
Quanto: Não divulgado

Um comentário:

  1. Primeiro quero agradecer pela excelente matéria sobre o musical Priscilla, tudo explicado e didático.
    Realmente a saga Priscilla Rainha do Deserto é fantástico e a drag queen Tchaka brasileira mais famosa já conhecida como a Rainha das Festas e agora ser considerada a "MADRINHA DO MUSICAL PRISCILLA, RAINHA DO DESERTO NO BRASIL", feito pelo autor Stephan Elliott é incrível, obrigada também aos estilistas Tim Chappel e Lizzy Gardiner que além do OSCAR de melhor figurinos ao musical Priscilla Rainha do Deserto fizeram muitos elogios ao modelito da Tchaka Drag Queen.

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