quinta-feira, 26 de julho de 2012

Fame, o Musical sai de cartaz sem deixar saudades


Cena inicial de Fame, o Musical, que fica em cartaz até domingo no Teatro Frei Caneca, em São Paulo


Esta é a última semana de um musical que pouca gente ouviu falar – pelo menos nos palcos brasileiros. Mas não é de se estranhar isso, afinal, Fame – o Musical estreou há pouco mais de dois meses, em 12 de maio, e já está saindo de cartaz. As últimas cinco sessões serão apresentadas entre hoje e domingo e ainda há muitos ingressos disponíveis, inclusive para a última apresentação – e com valor promocional.

Mas vamos ao espetáculo. Fame é um musical que foi encenado em mais de 30 países, baseado no filme homônimo de 1980, que virou até uma série de TV. Ele fala basicamente sobre a vida de estudantes de artes que passam pela New York High School of Performin Arts, na 46th Street, para receber aulas de dança, música e atuação para, quem sabe um dia, fazer sucesso. Uma história que hoje é bastante, digamos, batida. Mas esse não é o único ponto negativo do show.

Klebber Toledo e Giulia Katz são Nick Piazza e Serena Katz
O problema é que o musical já começa mal. A primeira pessoa a soltar a voz assim que as cortinas se abrem é o mais recente galã global, Klebber Toledo (o Guilherme de Morde & Assopra). Por que começa mal? Simplesmente porque estamos falando de um musical e o loirinho não canta nada. É só mais um (virou moda nos musicais, infelizmente, pela visibilidade que vem ganhando atualmente) rostinho bonito e conhecido para atrair público. Não deu certo.

Tanto que o mesmo aconteceu com a (ex)protagonista da peça. A escolhida para interpretar Carmem Diaz - uma jovem e ambiciosa estudante de teatro que busca o estrelato sem medir as consequências de seus passos – foi a (também) mais nova Miss Globo, Paloma Bernardi (a Alice de Insensato Coração). Não posso dizer como foi a passagem dela por Fame porque ela foi cortada antes mesmo da peça estrear. Motivo: desafinava. Sorte do público, que ganhou a excelente Corina Sabbas no papel, definitivamente.

Voltemos ao musical. 

Então, depois da primeira cantoria desanimadora de Klebber como o engomadinho Nick Piazza, as coisas começam a melhorar... visualmente. Digo isso porque o cenário, as coreografias, o jogo no palco, são bem elaborados. Os números musicais são limpos e bem executados, mas fica nisso. A história não acontece. Não evolui, cansa, e não supera nem os High School Musical da vida. Por isso o primeiro ato é bom e o segundo péssimo. No primeiro, é a alegria, o glamour, o deslumbre dos alunos na escola, etc etc etc, então são basicamente números musicais isolados. Já a segunda parte, onde a dramaturgia deveria pegar, ixi, nada acontece.

Números musicais bem elaborados de Fame salvam a peça
Basicamente, são três histórias isoladas, três casais, tentando se acertar. O principal, como dito, da Carmem, é o melhorzinho, já que é único que apresenta alguma empatia, um drama real, alinhados ao talento de Corina. O segundo, formado por Klebber e Giulia Nadruz (como a apaixonada e inocente Serena Katz), ganha algum brilho graças a belíssima voz da atriz e suas cenas pra lá de cômicas. Mas o enredo é comum: a fã do mocinho popular do colégio que, depois de esnobar a coitada, acaba se apaixonando.

O terceiro casal, com perdão pela sinceridade, deveria ser cortado do musical. Rafael Machado (o talentoso bailarino, porém negro e analfabeto, então vítima de preconceito, Tyrone Jackson) e Gabriela Rodrigues (a estudiosa e melhor bailarina da escola, Iris Kelly) são sofríveis. Rafael é um ótimo dançarino, tanto que conheci seu trabalho, em 2006, como dançarino de um cruzeiro e depois o vi em outros musicais, sempre dançando. E ele realmente dança, e canta até, muito, mas deveria parar por aí. Sua atuação é fraca, decorada, sem expressão, sem sentimento, na verdade, é amadora. Gabriela não é tão iniciante, mas está longe de ser boa. Sem contar que, por ter recebido um papel de “melhor bailarina”, ela precisava apresentar uma dificuldade maior no balé, e não apenas “andar” na ponta de lá pra cá. O pas de deux final é triste, com direito a um tapinha na bunda que quase pede para o espectador levantar e ir embora. Os aplausos só não são completamente xoxos porque sempre há os colegas na plateia.

Espetáculo conta com 33 atores em cena
As versões em português também são outro ponto fraco no espetáculo. A maioria é brega e rasa, sem contar que mudar sílaba tônica de uma palavra para ela se encaixar na letra é a coisa mais porca que uma música pode ter. Músicas campeãs de breguice são Sendo a Meryl Streep e Minhas Crianças. Preste atenção se você for assistir.

Os números musicais da canção mais emblemática, Fame, são bons, mas resumindo, trata-se de um espetáculo visual interessante, mas com elenco fraco e história deprimente. Como um amigo disse, é a série B do campeonato dos musicais.

AGENDE-SE

Fame, o Musical
Onde:
 Teatro Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569 , 6º andar, São Paulo) 

Quando: até 29 de julho. Quinta às 21h, sexta às 21h30, sábado às 17h e 21h e domingo às 18h. 
Ingressos: 
de R$ 50,00 a R$ 100,00.

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